segunda-feira, 31 de maio de 2010

Uso da punição como agente educador

Geralmente a tarefa de ser pai ou mãe é realmente muito ardua e trabalhosa, mas sempre muito recompensadora.

Os pais tendem a ficar muito angustiados com comportamentos que seus filhos apresentam, especialmente quando esses comportamento produzem algum tipo de problema. Esta conduta comumente é chamada pelo senso comum de disfuncional; e os comportamentos causadores do problema, de inadequados – pois são diferentes dos quais os parentes da criança julgam corretos. Os pais, por não conseguirem lidar com o problema, acabam agindo de forma bem intencionada; mas que não vai ter o efeito desejado; e pior, trazem mais consequências desagradaveis para o lar.

Talvez o questionamento mais frequente que os pais fazem aos Psicólogos e Educadores seja sobre o ato de punir. Até que ponto uma palmada ou bronca fazem efeito quando aplicada em uma criança tida como desobediente (por exemplo).

Bem, por definição, o ato de punir significa uma ação no ambiente que tem como propriedade a interrupção imediata do comportamento inadequado, como gritar em um lugar público por exemplo. Muitas vezes, para acabar com uma birra ou comportamento inadequado de qualquer ordem, os pais recorrem a punição como única alternativa. Existem, porém, várias outras formas de educar sem que se faça uso da punição.

Existem dois tipos de processo punitivo. O primeiro é a punição positiva; que, diferentemente do que o nome parece sugerir, ela não tem nada de legal. A punição positiva é assim descrita, por que adiciona um estimulo aversivo no ambiente que interrompe imediatamente o comportamento inadequado da criança ou seja, é uma ação do pai/mãe/responsável que faz com que a criança pare de se comportar inadequadamente na mesmo hora. Como exemplo, podemos falar que se uma criança está se quebrando alguma coisa e o pai vem e da um beliscão nela, a probabilidade dela parar de quebrar as coisas vai ser grande.

O grande problema, é que existem efeitos colaterais muitas vezes intensos; e que por isso, nem sempre justifica-se o uso da punição positiva. Um dos principais efeitos colaterais é que o comportamento causador do problema vai continuar acontecendo quando o agente punidor (mãe, pai ou responsavel) não estiver presente; ou seja , não existe modificação eficiente do comportamento problema, mas um deslocamento para uma situação onde o agente punidor não está presente. Podemos dizer, além disso, que a punição positiva apenas mostra a criança o que ela não deve fazer, mas não ensina o que ela deve fazer. Por sí só, esse efeito já desqualifica o uso da punição positiva para educar.

O bater pode levar a consequências mais perigosas, pois dependendo da estrutura psicológica dos pais, pode levar a um quadro de abuso fisico ou psicológico que se transforma em espancamentos e intenso medo na criança; podendo gerar stress pós traumatico e outros problemas como timidez e problemas nos relacionamentos afetivos e sociais.

Por outro lado existe outro tipo de punição de comportamentos inadequados, os analistas do comportamento chamam de “Punição Negativa”.

Nesse tipo de comportamento punitivo, podemos dizer que existe uma retirada de um estimulo reforçador como punição a um comportamento inadequado. Como exemplo, podemos usar a situação onde uma mãe retira o video game do filho que tirou notas baixas na escola ou então da retirada da sobremesa da filha que desobedeceu. É importante dizer que a punição negativa não necessariamente implica em retirada de um reforçador contingente a resposta inadequada, mas a qualquer reforçador para a criança.

A punição negativa parece ser uma forma de lidar com comportamentos problemas mais eficaz que a punição positiva e menos aversiva para o processo de educação. É importante ressaltar que a criança deve estar sendo comunicada com clareza sobre os motivos que levaram a retirada de um estimulo importante para ela.

Os pais devem colocar limites; regras claras e especificas. E quando essas regras são quebradas, devem aplicar as penalidades já acordadas com os filhos, ajudando-os a fazerem a ligação entre o descumprimento da regra e a conseqüência disso. Eles precisam saber o motivo da punição aplicada.

Em termos gerais podemos exemplificar com o seguinte esquema abaixo :

Existem métodos mais eficientes na educação como o reforço diferencial de outras (comportamentos) respostas (DRO) ou o reforço diferencial de (comportamentos) respostas alternativas (DRA). Essas duas formas além de extinguir os comportamentos “inadequados” das crianças sem recorrer a punição, ainda ensinam o comportamento esperado como alternativa ao comportamento (a ser eliminado) inadequado, que na aplicação do reforçamento diferencial, não vão ser consequênciadas, entrando em extinção e sendo substituidas por comportamentos adaptativos.

Em um proximo texto iremos explorar melhor os conceitos e aplicações do reforçamento diferencial de outras respostas (DRO) e o reforçamento diferencial de comportamentos alternativos (DRA) no processo de educação.



* Nota – O termo inadequado usado nesse texto é uma referencia a comportamentos não esperados dentro de regras culturalmente aceitas no Brasil. Obviamente, dizer o que é inadequado e o que é adequado merece um maior debate, pois, mesmo os educadores tem discordâncias sobre esse tema. O Uso do termo inadequado, apenas ilustra um comportamento da criança que está causando algum tipo de problema, seja para ela mesma ou seja para o convivio social de onde essa familia está inserida, independente de valores morais sobre o que é certo e errado.

11 comentários:

Anônimo disse...

Ola Marcelo sou novo no assunto e como quase todo novato ,tenho minhas dúvidas a respeito da punição:
No seu texto—“punir significa uma ação no ambiente que tem como propriedade a INTERRUPÇÃO IMEDIATA do comportamento inadequado’’
O que exatamente vc quer dizer quando usa as palavras INTERRUPÇÃO IMEDIATA??
Quando vc diz:
“......o estimulo aversivo no ambiente interrompe IMEDIATAMENTE o comportamento inadequado da criança fazendo ela pare de se comportar inadequadamente NA MESMA HORA.”
O que exatamente vc quer dizer com NA MESMA HORA??
Na minha opinião (de novato) punição significa que em determinada situação, alguém faz alguma coisa e é imediatamente seguida de um estímulo aversivo, então a probabilidade da pessoa voltar a responder da mesma maneira na presença daquele SD diminuirá.
ou seja PRIMEIRO ocorre uma resposta ,DEPOIS ocorre a punição DAÍ ENTÃO ocorre a diminuição daquela resposta.Sendo assim a punição não INTERROMPE IMEDIATAMENTE a resposta na MESMA HORA,
A punição faz com que diante da mesma situação a resposta não volte a ocorrer.
Eae marcelão ......tem como me ajudar rsrs???
Assim eu já começo 2011 com o pé direito!!
Valeu....Feliz ano novo!!!

Marcelo C. Souza disse...

Ola anonimo.

Interrupção imediata é que na apresentação de um aversivo / punitivo frente a uma resposta que se considera inadequada, essa mesma resposta vai ser suprimida.

Como exemplo : Uma criança que esta bagunçando na sala de aula.
Quando o professor da um grito e da ponto negativo, essa criança vai interromper imediatamente a resposta de bagunçar.
Como consequência disso, a resposta de bagunçar frente a esse professor vai diminuir no futuro.

Sua definição de punição está correta, uma resposta seguida de um estimulo aversivo, faz com que essa mesma resposta diminua ou se extingua no futuro, porem, alem de diminuir a frequencia no futuro, a punição interrompe a resposta na hora que ela for apresentada.

Outro exemplo : Em uma briga de torcidas organizadas.

Todo mundo esta se batendo, e de repente chega a policia e joga bombas de gas em cima de todo mundo.
A resposta de brigar vai ser interrompida imediatamente. Posteriormente, se houver uma sequencia de condicionamento, toda vez que a policia estiver presente, as torcidas nao vao brigar, pois em sua história, já foram condicionados, e sabem que bombas de gás podem cair mais uma vez, se brigarem.

Nesse sentido, um punidor ( bombas de gás ) interromperam a resposta de brigar instantaneamente quando foi apresentada e POSTERIORMENTE serviram como redutor da possibilidade de nova resposta igual.

Acho que agora ficou mais claro.

Abraços

Anônimo disse...

VALEU MARCELOO!!
......mas me explica uma coisa....a punição interrompe a resposta na hora que ela for apresentada OK,mas o que ocorre no exemplo abaixo??

Se eu ponho o dedo no nariz minha mãe me da um beliscão ou seja fui punido por uma atitude que tomei, essa punição interrompe IMEDIATAMENTE o meu comportamento? Ou seja eu paro de me comportar inadequadamente NA MESMA HORA??
A punição tem como propriedade a interrupção imediata do comportamento inadequado,porém a única forma de parar de me comportar inadequadamente seria tirando o dedo do nariz certo?? Mas o ato de tirar o dedo do nariz após a apresentação do estimulo aversivo não seria uma resposta de FUGA ,pois nesse caso a única forma de parar imediatamente de receber o estimulo aversivo seria adotando uma resposta que concorre com a primeira resposta.
Nesse caso como vou saber se a punição interrompeu imediatamente meu comportamento (fazendo com que eu tire o dedo na mesma hora) ou se foi uma resposta de fuga(fazendo com que eu tire o dedo do nariz na mesma hora, pois isso me livraria do estimulo aversivo)???

“Óh, e agora quem poderá me defender?”

Marcelo C. Souza disse...

Ola anonimo

Vamos la.

No seu exemplo perceba quue houve uma interrupção imediata da resposta de colocar o dedo no nariz.

Talvez, o que não tenha ficado claro é que você pode estar confundindo interrupção de resposta com extinção de resposta.

Note que no seu exemplo a resposta de colocar o dedo no nariz foi interrompida no mesmo momento que o agente punidor usa o processo de punição positiva.

A fuga vai ser utilizada DEPOIS que houve uma história previa de condicionamento. Pois a principio, o organismo não sabia que seria punido. Somente depois de ter sido punido é que ele vai criar estratégias de contra controle como a fuga.

Note que esta havendo uma confusão de alguns conceitos. Interrupção de resposta não quer dizer baixa probabilidade de emissão.
A resposta pode continuar sendo emitida quando o agente punidor não estiver presente.

No seu exemplo, a resposta foi interrompida na hora, mas não quer dizer que não vai continuar acontecendo.

Entende ??

abs

Anônimo disse...

Oopaaa , pérai......
agora as coisas estão ficando mais claras, acho que entendi!!!
Só para confirmar ,me explica uma coisa:

Ok.......imaginemos então que eu estou dirigindo e resolvo fechar as janelas do carro....como conseqüência ,dez minutos depois o carro fica extremamente abafado (estimulo aversivo),resolvo então, em meio a tanto calor, abrir novamente as janelas do carro.
Nesse caso eu me comportei de uma determinada forma e tive como conseqüência um estimulo aversivo, esse fez com que eu abrisse novamente as janelas.
Nessa situação o ato de abrir as janelas após a apresentação do estimulo aversivo foi fuga ou punição???

Marcelo C. Souza disse...

Veja.

Para existir punição é necessário existir um agente punidor.

No caso do carro não houve punição no sentido de punir um comportamento.

Do ponto de vista comportamental, o ato de abrir a janela foi reforçado negativamente, pois a tendencia é que abrir a janela seja o comportamento selecionado a atuar sempre que o carro estiver abafado.
Mas poderia ser selecionado outro tipo de resposta como ligar o ar condicionado.

Reforçamento negativo é sinonimo para FUGA/ESQUIVA.

Não houve punição e sim fuga.

É preciso dizer que fuga e esquiva não são a mesma coisa.

Fuga é quando o aversivo já foi apresentado e portanto é necessário fugir.

Esquiva é quando o aversivo não foi apresentado, mas pode ser. Nesse caso eu tenho a tendencia a evitar entrar em contingencias que propiciem um aversivo. Muito comum no TOC ou no Panico, por exemplo...

Abraços

Anônimo disse...

Jesus cristo! Então tem esse tal de agente punidor?? Affffff....
Pô....essa eu não sabia.........pensei que toda a resposta que tivesse consequentemente um estimulo aversivo fosse uma punição rsrs
Mas se eu estivesse no carro com a minha mãe e fechasse as janelas, como conseqüência dez minutos depois minha mãe me dá um beliscão (estimulo aversivo),diante disso eu abro novamente as janelas.
Eu abri as janelas por punição ou por fuga?? (suponhamos que nesse caso o carro não tenha ficado abafado, ela só me beliscou porque julgou inadequado meu comportamento)
E se eu ponho o dedo na tomada, consequentemente recebo um estimulo aversivo (choque),nesse caso quem é o agente punidor??

Marcelo C. Souza disse...

Agora lendo as postagens vejo que cometi um erro.

Agora ficou claro o pq não estavamos nos entendendo direito
rs

Estava confundindo processo de punição com procedimento de punição.
Assim, no seu exemplo.

O beliscão da sua mãe puniu seu comportamento de fechar a janela. Na proxima vez que isso acontecer e vc não abrir a janela por medo de ser punido, pode ser entendido como esquiva.

Reformulando o post anterior.

Na esquiva, voce esquiva de uma situação onde a contingencia já esta estabelecida e a fuga acontece quando o processo de punição já esta acontecendo.

Esquiva seria vc penasr : Se eu abrir a janela eu vou levar um beliscao e a fuga é levar o beliscão e sair da situação aversiva rapidamente.

Alem disso, a punição tb modela comportamentos.
Nesse ponto que eu comi bola, rs

Quando vc coloca a mão na tomada e leva um choque, o mesmo choque vai modelar seu comportamento de nao colocar mais a mao la. ( a nao ser que vc goste dos choques hehe ).

O choque é um estimulo punitivo ao comportamento de colocar a mão na tomada e modela em vc um repertório de comportamentos para nao colocar mais a mão la.

abs

Anônimo disse...

Eae marcelo tudo bom??
demorei né?? Rsrs
valeu marcelo pela força suas respostas foram muito úteis, acho que essa parte (controle aversivo) é a mais complicada, tem noite que nem durmo!

Ta bom deixa eu ver se entendi, recapitulando:
Ok no primeiro caso eu fechei a janela e tive como conseqüência o estimulo aversivo “carro abafado” (nesse caso vc disse que meu comportamento não foi punido,pois precisava de um agente punidor)
No segundo caso eu fecho a janela e tenho como conseqüência o estimulo aversivo “beliscão da mamãe” (nesse caso vc disse que foi punição)
Em ambos os casos eu FUJO da situação aversiva abrindo a janela (comportamento de fuga)
Essa conclusões estão corretas??

OK,até aqui acho que absorvi,só me explica uma coisa:

Voltemos a segunda situação fecho a janela e tenho como conseqüência o estimulo aversivo “beliscão da mamãe” ,em uma segunda oportunidade quando estiver com minha mãe no carro novamente, a probabilidade de fechar a janela diminuirá.Porque??
Sei que sua resposta será esquiva........... mas a punição não diminui respostas que foram punidas no passado??
punição significa que em determinada situação, alguém faz alguma coisa e é imediatamente seguida de um estímulo aversivo, então a probabilidade da pessoa voltar a responder da mesma maneira na presença daquele SD diminui.
nesse caso eu respondi fechando a janela meu comportamento foi punido, nesse caso não vou mais me comportar dessa forma no futuro ou seja quando estiver dentro do carro com minha mãe ao lado não fecharei as janelas.
Resumindo, o que me leva a não fechar novamente as janelas,punição ou esquiva??

Marcelo C. Souza disse...

Pelo que entendi, no seu exemplo houve punição quando você emitiu a resposta de fechar a janela e ganhou um beliscão.
A punição vai ser considerada quando houve uma resposta e o estimulo punitivo veio depois dessa resposta E POSTERIORMENTE se observa que a emissão dessa mesma resposta foi diminuida.

A esquiva é diferente, pois não é mais necessário um beliscão. Você não fecha, pois se houve uma história de condicionamento onde o fechar a janela leva a punição, então você simplesmente não abre.

Se fechar pode ser punido de novo.
Fechar a janela e levar um beliscão é punição do comportamento. Não abrir a janela com medo de ser punido por uma história previa é a esquiva.

abs

Anônimo disse...

Showw!!! Marcelo obrigadaço!!
Analise de comportamento é complicado, estava com bastante dificuldade nessa parte de controle aversivo, gostaria de agradecer pela sua eterna paciência rsrs, sempre pronto a ajudar se mostrou mais útil que meu professor (papo sério, não é reforçamento positivo não! rsrsrs)
Obrigado amigo, valeu!!!
abraço!!