segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Lei Seca - O outro lado da moeda.

O ano de 2008 foi presenteado com uma nova lei que pretende diminuir os acidentes e mortes no trânsito brasileiro.

A chamada Lei Seca, que pune, com Prisão, apreensão do Veiculo, perda da Carteira de motorista, e multa altíssima, parece que fez efeito. Segundo agências do governo e privadas, o número de acidentes e mortes realmente diminuiram, pois sem motoristas alcoolizados, as ocorrências registradas pelo Corpo de Bombeiros e o SAMU ( Serviço de Atendimento Medico de Urgencia ), foram menores que o mesmo periodo de 2007.
Independente de ser certo ou errado, a abordagem utilizada para evitar motoristas embriagados, baseada unicamente, em Punição por parte do governo e Reforçamento Negativo ,por parte da população, criou algo que não foi esperado, um efeito colateral interessante que talvez as pessoas ainda não tenham dado conta. Motoristas que antes tinham um mínimo de censura quando iam para as noitadas de carro, e controlavam de certo modo, as dosagens de bebidas, passaram a ignorar totalmente o senso de quantidade de alcool. O pensamento vigente passou de: ““Preciso parar de beber umas horas antes; ou mesmo não beber, por que vou dirigir” para: “ Eu vou de taxi mesmo, vou beber tudo e mais um pouco”.
O efeito colateral é que as pessoas nunca beberam tanto alcool como agora. Pois muitos deixam os carros em casa e bebem o máximo que podem sem se importarem com a direção dos veículos. Diminuímos os acidentes por pessoas embriagadas, mas podemos estar criando um outro problema, tão ou mais sério do que a problemática que a Lei Seca se propôs a Reduzir.
Conversei pessoalmente com alguns barmans e donos de bares e estabelecimentos, e o consumo de bebidas, aumentou em, pelo menos, 300%. Os mesmos afirmaram que, desde que a lei seca foi sansionada ,as pessoas não pedem mais por doses e sim por garrafas. Não é raro grupos de amigos comprando camarotes com quantidade de bebida quase ilimitada nas casas noturnas. Segundo alguns freqüentadores, não vale a pena comprar bebidas por dose, pois o custo é muito mais alto do que comprando a garrafa, e já que ninguém vai dirigir, podem beber a vontade.
O curioso é que em muitos dos entrevistados, frases como “ Eu nunca bebi tanto como estou bebendo ultimamente” ou então “ Meu cartão de Credito está estourado com o tanto que eu gasto em bebida nas baladas” ou mesmo “ Eu não preciso dirigir mesmo...” se tornaram muito comum.
A Lei Seca proporcionou uma maior segurança no trânsito, mas induziu um aumento imenso na quantidade de alcool ingerido nas noites. Não preciso dizer que um maior consumo de alcool aliada a uma imensa quantidade de cigarros, são devastadores para a saúde dos freqüentadores desses lugares. Isso sem falar dos colaterais, que o excesso de alcool provoca como, violência, sexo sem proteção, aumentando o numero de infectados com DSTS, gravidez indesejada, entre outros...

Diminuímos as mortes imediatas causadas por motoristas irresponsaveis embriagados, mas a probabilidade de aumentarmos o número de alcoolismo, entre jovens, é incrivelmente mais alta do que antes. Além disso, outros problemas como tabagismo, que vem acompanhado do elevado consumo de álcool, também vai aumentar, e com isso, o custo de cada uma dessas pessoas para a Saúde Pública vai se elevar muito.
A pergunta que penso é: será que não seria mais efetivo se pensar em outro tipo de campanha, baseada em reforçamento positivo, do que em punição? Pois, na melhor das hipóteses, a punição leva à fuga/esquiva. E foi justamente isso que aconteceu. Já que não podemos beber muito, se estivermos dirigindo, então não vamos dirigir e beber mais ainda.
Se por um lado estamos evitando a possível morte de alguém, em um acidente de trânsito, por outro lado estamos apressando a morte de outra pessoa pelos efeitos a medio/longo prazo do alcool.

Realmente, fica o desafio para o governo resolver.

Marcelo C. Souza
Psicologo Clinico