sexta-feira, 12 de junho de 2009

Reforçamento Positivo na Análise do Comportamento - Definição e aplicações clínicas

Dentro de uma abordagem Analítico-comportamental , o reforçamento positivo está presente em muitas técnicas e sem duvida é um principio importante para a mudança comportamental.

Entender o conceito e a aplicação é fundamental para o analista do comportamento articular as sessões para que classes de respostas alvo sejam constantemente reforçadas afim de se mudar um comportamento problema, caso seja esse o objetivo.

O terapeuta deve no inicio ser um agente reforçador por si só, já que o cliente procura um terapeuta e o tem como alguém que detém um conhecimento que pode ajudá-lo e qualquer ato ou palavra que alivie o sofrimento já tem um papel reforçador para respostas de compromisso e maior aderência ao processo psicoterápico. Ainda podemos falar que esses processos aprofundam e melhoram a relação terapêutica que se está sendo estabelecida entre terapeuta e cliente.

Ao lidar com o reforço positivo são necessários cuidados, é preciso estabelecer um criterioso levantamento de dados e fazer uma boa análise funcional para definir a princípio qual é o melhor esquema de reforçamento para o caso do cliente dentro dos objetivos da terapia.

Alguns clientes funcionam sobre um esquema de contingência de reforço positivo muito infrequente. Isso significa que esse cliente tem uma tolerância a frustração muito grande. Sendo assim, acabam não sendo sensiveis a novas contingências reforçadoras e não operam no ambiente, pois já se acostumaram a suportar frustração e condições aversivas. Nesse caso mantem seu comportamento inalterado, mesmo que seu padrão de respostas produzam conseqüências aversivas.

Clientes que são expostos a contingências de total privação ou de privação moderada de fontes reforçadoras experimentam um intenso sentimento de culpa assim que os reforçadores são apresentados, isso acontece por possuírem repertórios modelados de uma extrema tolerância a frustração (Guilhardi, 2002, p. 136).

Contingências de reforçamento positivo escassas podem gerar sujeitos que não possuem repertórios comportamentais capazes de produzir reforçadores em ambiente natural intrinsecamente, precisando sempre de esquemas de reforço extrínseco sugerindo baixa auto-estima e dificuldades em relacionar-se em um ambiente social. Com isso pode-se dizer que o individuo sofre um impacto negativo em sua variabilidade comportamental e portanto vai ter dificuldades em buscar novas formas de reforçamento.

Segundo Horcones (1983), as palavras “extrinseco e intrinseco” referem-se apenas a origem das conseqüências. Se o cliente ao responder a estímulos discriminativos, obtém uma conseqüência reforçadora dizemos que o reforçamento é intrínseco e com isso se configura em uma resposta naturalmente reforçada.

Quando o responder do cliente é reforçado pelo ambiente através do terapeuta, dizemos que o reforço é extrínseco e arbitrário, já que foi possibilitado por outra fonte que não seja o próprio responder do sujeito. Em outras palavras, quando falamos de reforçamento positivo intrínseco, nos referimos ao uma relação entre resposta e conseqüência, em que a conseqüência é produto direto da resposta, ou seja, a conseqüência reforçadora é produto direto da resposta do próprio sujeito. Quando falamos de reforçamento positivo extrínseco, vamos nos referir a uma relação entre conseqüência e resposta, em que a conseqüência depende da própria resposta do individuo somado a outros eventos.

O reforçamento intermitente é mais eficaz que o CRF por facilitar a variabilidade comportamental, já que torna a sessão mais proxima ao ambiente natural onde é preciso operar no ambiente e algumas respostas vão ser reforçadas e outras não. O reforçamento de esquema intermitente mostra melhores resultados por que aumenta a tolerância a frustração e obriga o indivíduo a continuar operando para receber o reforço que outrora era sempre apresentado. Isso é especialmente verdade quando falamos de comportamento social, onde algumas respostas são reforçadas e outras entram em extinção.

O reforçamento positivo é um processo que consiste em apresentar um estímulo conseqüente que aumente a probabilidade da emissão de respostas. Dentro do contexto clinico, é importante determinar respostas que devem ou não ser conseqüenciadas positivamente. Mas também é sabido que, como no caso da psicoterapia o reforço é obtido dentro do contexto clínico, pode ser que o mesmo reforço não seja produzido em ambiente natural. É necessário que o terapeuta também ajude o cliente a instrumentarlizar-se para obter esses reforços em seu ambiente fora do contexto clínico, podendo generalizar fontes reforçadoras obtidas através de um novo repertório comportamental que foi ou está sendo modelado em terapia.

A terapia seria falha se o cliente só conseguisse operar em um ambiente clínico e só fosse reforçado nesse ambiente, não levando novos repertórios para seu ambiente natural. O reforço extrínseco deve ser capaz de instalar novos repertórios comportamentais para que o reforço seja intrínseco ao comportamento do cliente. Nesse caso, acontecerá a generalização e conseqüentemente repertórios inadequados, não assertivos e agressivos vão ser extintos.

Em alguns casos o terapeuta sozinho não consegue modelar novos repertórios comportamentais apenas em um ambiente clínico. Para esses casos, o trabalho conjunto com o A.T. (Acompanhante Terapêutico) mostra resultados interessantes. O terapeuta como fonte reforçadora em ambiente clínico modelando novos repertórios comportamentais e o A.T. como fonte reforçadora externa ao contexto clínico, e em alguns casos mais graves, dando modelos de novos repertórios para que o cliente possa ver uma classe de respostas mais ampla e com isso passe a imitar o Acompanhante Terapeutico.

Se espera com esse trabalho em conjunto que a generalização de reforçadores seja facilitada contribuindo para a instalação permanente de novas classes de respostas mais adaptadas e novos repertórios comportamentais. Em um próximo texto discutirei um pouco mais o trabalho do Acompanhante Terapeuta ( A.T.).

Agradeço ao Psicológo Rodrigo Nunes Xavier pela valorosa contribuição na elaboração do presente texto.

Referencias :

Madi, M. B. B. P. (2004). Reforçamento positivo: princípio, aplicação e efeitos desejáveis. Em C.N. Abreu e H.J. Guilhardi (orgs.) Terapia Comportamental e Cognitivo-comportamental : práticas clínicas. Capitulo 2, 41-54. São Paulo : Roca.

Kohlemberg, R.J. e Tsai, M. (2001). Suportes teóricos da FAP. Em: Psicoterapia Funcional Analitica: Criando Relações Terapeuticas Intensas e Curativas. Santo André : ESETec. (pp.8-18).

Andery, M.A.P.A.; Sério, T.M. Consequências intrínsecas e extrínsecas. Em : C.E. Costa, J.C. Luzia, H. H. Nunes S´Antana(orgs.) Primeiros Passos em Analise do Comportamento e Cognição, Vol 2. Santo André : Esetec, 2004 (pp 43-48)

quarta-feira, 3 de junho de 2009

A Evolução de uma Cultura

Estava assistindo uma Aula de Vida em Grupo e Cultura com os Professores Denis Zamignani e Roberto Banaco a qual eles discutiam como uma cultura se mantem e evolui.

Quando estava ouvindo a discussão comecei a pensar no papel que apenas um individuo tem ou pode ter na manutenção e mudança de uma cultura com valores estabelecidos e estáveis.Pensando nessa questão, acabei lembrando de alguns exemplos. Principalmente de culturas instaveis mantidas a força como o caso de Cuba do ex ditador Fidel Castro, o Regime Talibã e a propria ditadura militar no Brasil.

Começo a estabelecer relações e começo a imaginar que todas essas culturas tem algo em comum, pois mesmo que um poder constituido lute para manter a estabilidade, um unico individuo pode desestabilizar e destruir uma cultura, modificando tudo em beneficio próprio ou de seu grupo apenas alterando contingências e cuidando que o entrelaçamento dessas mesmas contingências produzam a consequência esperada.Hittler foi um grande exemplo de como um individuo pode introduzir um elemento em uma cultura ja estabelecida e mudar toda uma nação. Ele absorveu todo o descontentamento da nação. Principalmente pela derrota e humilhação pós guerra e com isso liderou milhões em uma luta comum e a sua luta continua até hoje em alguns grupos ditos Neo Nazistas.

Diretamente ou indiretamente os lideres de grupos e nações sabem que um unico individuo pode desestabilizar culturas e tomam cuidados para evitar isso. Me lembro de uma gravura que vi na epoca do colégio. Era uma fila de pessoas caminhando, todas com a cabeça baixa e seguindo a mesma direção. Em seguida uma das pessoas da fila pensa em voz alta ” Onde estamos indo ?”, no proximo quadrinho a pessoa desapareceu antes que os outros comecem a pensar e fazer perguntas tambem.
Ouvindo tudo que os professores estavam dizendo e todos os debates que a essa altura já estavam sendo desenvolvidos, comecei a imaginar que tipo de controle e que tipo de cultura estamos respondendo enquanto psicolólogos. Respondemos a uma forma de pensamento que preza a liberdade e autonomia dos clientes ou reproduzimos uma adaptação a uma cultura atual e estabelecida no Brasil de pais colonizado e consequêntemente treinado históricamente para obedecer ?

Enquanto Analistas do Comportamento sempre estamos fazendo análises sobre o ambiente, mas não paramos muito para pensar no nosso papel e qual é o efeito das nossas intervenções no ambiente.É algo importante a qual não vejo muitas respostas, somos modelados para observar o que o ambiente causa nas pessoas, mas não somos treinados para perceber a nossa responsabilidade enquanto Analistas do Comportamento atuantes em um ambiente com suas regras impostas diretamente ou indiretamente.

A pergunta ” Que cultura estamos perpetuando” realmente me incomoda muito, pois enquanto psicólogo e individuo imerso em uma cultura definida por contingências que em muitos casos não tenho controle, começo a me preocupar e perceber que tem algo muito errado, somos manipulados e nos contentamos com pouco. É a politica do egoismo tipica do Capitalismo.Enquanto Psicólogo e Analista do Comportamento, talvez um futuro professor de Psicologia e consequêntemente formador de opinião, fico me perguntando se não é hora de introduzir no ambiente novas contingências de Controle para a modificação de uma cultura que preza o consumir ( mesmo que seja necessario destruir ) para uma forma de cultura mais humana que preza os direitos humanos e liberdade alem de valorizar o potencial humano de fazer o bem ?

O problema é que começo a imaginar que existe um limite ético para a atuação do psicólogo. Fico dividido entre dois pensamentos concorrentes. Sera que tenho esse direito de arranjar novas contingências ou se na verdade é o meu dever enquanto profissional de qualidade de vida.
O fato é que essa cultura com suas coisas boas e ruins só está sobrevivendo por quê esta sendo alimentada e possui um equilibrio, mas toda cultura trás em si mesma a própria destruição, pois as contingências vão mudando e basta uma pessoa com uma ideia nova para mudar tudo para melhor ( ou pra muito pior ).
Considero a ultima questao como fundamental para a discussão de Ética Profissional.